domingo, 21 de agosto de 2011

História dos moradores da Maré no palco


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A Cia Marginal reestréia o espetáculo “Qual é a nossa cara?” no Centro de Artes da Maré

Entre os dias 04 e 13 de junho a Cia Marginal realizará, no Centro de Artes da Maré, uma curta temporada do seu último espetáculo “Qual é a nossa cara?”, que trata da memória de alguns moradores da comunidade Nova Holanda (Maré, Rio de Janeiro), entre eles os próprios atores do grupo.
O Centro de Artes da Maré é um espaço cultural voltado para a formação, criação, difusão e produção das artes na Maré. Hoje também ponto de cultura, o Centro foi criado pela Redes de Desenvolvimento da Maré em parceria com a Lia Rodrigues Companhia de Danças.
A temporada do espetáculo “Qual é a nossa cara?”, que terá duração de duas semanas, conta com o patrocínio do Ministério da Cultura através do Prêmio de Apoio à Pequenos Eventos Culturais e será inteiramente gratuita.

Qual é a nossa cara?
O espetáculo foi criado em 2007 com o Prêmio Myriam Muniz de Teatro da FUNARTE, e estreou no mesmo ano na Casa de Cultura da Maré. Em 2008, a Cia fez uma apresentação isolada do espetáculo na sede do Teatro de Anônimo, como uma das atividades previstas pelo projeto Território Cultural 2008.
“Qual é a nossa cara?” foi criado a partir de um estudo feito através de entrevista e conversas longas com os moradores da comunidade Nova Holanda, entre eles os próprios atores que atuam no espetáculo. A pesquisa de campo que motivou a sua criação, deu origem a células dramatúrgicas que vão desde a composição de personagens, passando pela recriação das histórias contadas pelos moradores, à depoimentos pessoais dos atores, o que faz do espetáculo um jogo onde a ficção estabelece um diálogo contínuo com a realidade.
A interpretação, diferenciada em cada nível ficcional, não permite que a recepção se acomode nem na identificação emotiva nem na convenção teatral. Em alguns momentos, quem está em cena é o ator, acompanhado de gestos que compõem a sua naturalidade; em outros momentos, trata-se de um personagem detalhadamente construído.
Através desses diferentes planos de ação, alguns “personagens” aparecem como emblemáticos: Jorge Negão, o lendário chefe do tráfico na Nova Holanda dos anos 80 e Maria das Dores, mãe do falecido Derley, conhecido pai de santo da favela, cuja morte foi anunciada à mãe através de visão fantástica.

À margem
A Cia Marginal é um grupo de teatro formado por atores-moradores da Maré, onde, há cinco anos, desenvolve suas atividades em parceria com a Redes de Desenvolvimento da Maré. A Cia realiza, permanentemente, ações voltadas para a democratização do seu método de trabalho (oficinas teatrais oferecidas para jovens da comunidade) e para a difusão do seu repertório. Em 2009 recebeu patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro para a manutenção de suas atividades.
A missão da Cia Marginal é: construir soluções de sustentabilidade para a realização de projetos de pesquisa, criação, produção e democratização teatral, através de uma gestão coletiva e participativa; e atuar em diferentes espaços e para um público diversificado, contribuindo para a descentralização da difusão artística da cidade do Rio de Janeiro, através de um teatro autoral e de qualidade, comprometido com a formação de um pensamento crítico e reflexivo.
 
Serviço
“QUAL É A NOSSA CARA?” – temporada Nova Holanda
Data: dias 04, 05, 06, 11, 12 e 13 de junho
Horário: sextas às 20h, sábados e domingos às 19h
Local: Centro de Artes da Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda – Maré)

Contato:
Rosilene Miliotti
Tel: 8234-5871 / 3104-3276
e-mail: rosilenemiliotti@gmail.com
www.redesdamare.org.br

História

Complexo da Maré, Rio de Janeiro.
Complexo da Maré, Rio de Janeiro: detalhe a partir da Linha Vermelha.
Foi desmembrado de Bonsucesso pela Lei Municipal nr. 2.119 de 19 de janeiro de 1994,[1][2]. Constitui-se num agrupamento de várias favelas, sub bairros com casas e conjuntos habitacionais. Com cerca de 130 mil moradores (2006), possui um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, consequência dos baixos indicadores de desenvolvimento social que caracterizam a região.
O complexo ocupa uma região à margem da baía de Guanabara, caracterizada primitivamente por vegetação de manguezal. Ocupada desde o meado do século XX por barracos e por palafitas, os manguezais foram sendo progressivamente aterrados quer pela população, quer pelo poder público.
O bairro Maré foi instituído em 1994 e congrega aproximadamente dezesseis microbairros, usualmente chamados de comunidades, que se espalham por 800 mil metros quadrados próximos à Av. Brasil e à margem da baía, cortado pela Linha Vermelha e pela Linha Amarela.

Realidade do Complexo da Maré (RJ) é retratada em webdocumentário

Lançado pelo jornalista Marcelo Bauer, o webdocumentário Rio de Janeiro - Autorretrato reúne por meio de vídeos, fotos, textos, gráficos e mapas a realidade dos moradores do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, registrada por um grupo de jovens fotógrafos.

Com a intenção de servir também como ferramenta de conscientização social, a obra mostra o cotidiano da metrópole carioca e suas diferenças. Cidade que está diariamente em pauta na imprensa internacional, não só por seu apelo turístico e os conflitos entre policiais e traficantes, mas principalmente em função da realização das Olimpíadas de 2016. 

Bauer comenta que "o projeto envolveu cerca de um ano e meio de trabalho, mas o resultado valeu, a intenção era mostrar como a autorrepresentação nas comunidades populares ajuda as pessoas a formarem uma consciência social sobre seus problemas e a capacidade de influenciar nas soluções".
Crédito:Reprodução
AF Rodrigues, Jaqueline Felix e RatÒo Diniz
Os fotógrafos AF Rodrigues, Jaqueline Felix e Ratão Diniz por meio da autorrepresentação trazem um olhar próprio da comunidade e discutem a imagem que os próprios habitantes do Rio possuem de sua cidade. "Os três personagens retratados provam que isso é verdade. Além de ótimos fotógrafos, são também cidadãos conscientes dos seus direitos, que amam o território onde vivem, mas que, por meio das imagens, lutam por condições de vida melhores para todos", destaca Bauer.

Apesar do webdocumentário valorizar a sinergia entre várias linguagens, ele não é linear, já que os conteúdos podem ser visualizados em qualquer ordem sem comprometimento da mensagem. A obra foi contemplada com a Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet 2010 e também escolhida como um dos projetos do European Days Co-Production Forum 2010, em Turim (Itália). 

Bauer já havia produzido Filhos do Tremor - Crianças e seus Direitos em um Haiti Devastado, lançado em junho de 2010 e contemplado com menção honrosa do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. "Para o último lançamento, usamos basicamente a força da própria internet: redes sociais e sites especializados. Também contamos com a possibilidade de interação do internauta com o próprio webdocumentário, por meio de comentários e compartilhamentos com Facebook e Twitter", conclui.
A obra é dividida em quatro capítulos:

"Vida Cotidiana" "Cidade" "Pessoas" e "Sonhos"


Definição de webdocumentário:

O webdocumentário é uma nova forma de contar histórias pela internet que tem como ponto de partida a mistura de diferentes formatos: textos, áudios, vídeos, fotos, ilustrações e animações. Aproveita-se da linguagem documental criada para o cinema e para a televisão e a adapta para a rede. Acrescenta a capacidade de interação e participação típicas da web e rompe com a linearidade da narrativa, já que o internauta pode escolher o que ver e em que ordem ver.

Por meio das escolhas que faz ao navegar, o internauta passa a definir seu percurso pela obra, escolhendo o que ver, quando ver e em que ordem ver. O webdocumentário é um fenômeno recente que vem ganhando força em diversos países do mundo, sobretudo na Europa e no Canadá.

Policial civil entra no Complexo da Maré por engano e acaba morto por bandidos

Depois de entrarem, por engano, na Favela Boa Esperança, localizada no Complexo da Maré, um policial civil morreu e outro ficou ferido. Walter Cardoso chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Os policiais Evandro e Walter seguiam para o Centro pela Linha Vermelha, mas acabaram errando o caminho e entraram dentro da comunidade. Eles foram abordados por homens armados e houve intensa troca de tiros. Os dois policiais foram atingidos.
Evandro, que estava dirigindo o carro, foi baleado duas vezes em uma das pernas. mesmo ferido, ele conseguiu dirigir até o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Operado para a retirada das balas, ele está fora de risco.
Segundo informações da polícia, Evandro e Walter seguiam pela Linha Amarela e decidiram passar pela Linha Vermelha para evitar um engarrafamento na Avenida Brasil. Os bandidos teriam tentado roubar o carro em que estavam os policiais, quando os mesmos reagiram.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VIOLÊNCIA

Sob as leis do tráfico
À margem do Estado, criminosos estabelecem códigos de conduta para os moradores das favelas cariocas






MATEMÁTICA
No Morro da Providência, o número 3 é evitado
A assistente social Cátia Regina tem uma maneira peculiar para entrar com seu carro na favela em que trabalha, na zona norte do Rio de Janeiro. Antes de subir pela entrada principal do morro, pisca a luz do carro três vezes. A favela é dominada pela facção criminosa Terceiro Comando e quem não repetir a reverência com os faróis é parado e revistado pelos traficantes locais. Se o visitante acionar as luzes apenas duas vezes, as conseqüências podem ser piores. O ato seria considerado uma provocação por fazer referência ao número 'dois', adotado pela facção rival, o Comando Vermelho. Essas são regras não-escritas, parte de um código de conduta incorporado ao cotidiano de 1,4 milhão de pessoas que vivem em favelas no Estado do Rio e dos milhares que freqüentam diariamente essas áreas. ÉPOCA ouviu moradores, visitantes das favelas, policiais e traficantes para revelar um quadro das leis impostas pela criminalidade em que as normas do Estado praticamente não valem.
NAS FAVELAS DO COMANDO VERMELHO
Principais: Complexo do Alemão, Morro da Providência
e Vigário Geral
Leis
Não se fala a palavra 'três' ou 'terceiro'. Fala-se 'dois mais um'
Não é recomendável usar roupas da grife TCK, assumida pelo grupo rival Terceiro Comando
De tanto passar pela boca-de-fumo em Acari, favela dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP), a socióloga Berenice já se acostumou com a estranha contagem dos meninos do 'movimento': 'Um, um mais um, três, quatro' é como contam tanto o dinheiro quanto os papelotes de cocaína. A mesma coisa acontece quando ela vai a locais sob o domínio do Comando Vermelho, como as Favelas do Complexo do Alemão. A diferença é que lá os numerais 'três' e 'terceiro' é que foram extintos do vocabulário. 'Ninguém pede três cervejas no bar, só duas mais uma', relata.
Apesar disso, a maior marca do Comando Vermelho não é o número dois, associado aos vértices da letra V no nome da facção, mas a cor. Por influência dos mais velhos, desde criança o traficante João, que pertence ao Terceiro Comando, evita usar roupas vermelhas. Hoje é líder do tráfico de drogas do morro em que nasceu e só se esquece do dogma quando veste a camisa rubro-negra do Flamengo. 'O vermelho é misturado com o preto na camisa, poxa! Também aceito nota de um mais um reais, sem problema. Principalmente se forem três juntas', brinca.
Marco Antonio Cavalcanti/Ag. O Globo
COR
No Complexo da Maré, a única camisa vermelha permitida é a do Flamengo
Além de números e cores, as facções cariocas têm grifes favoritas. O logotipo da marca de roupas de surfe Cyclone lembra a sigla CV. Já a sigla da extinta grife TCK tornou-se Terceiro Comando do Kiko - nome de um líder histórico da facção - para os jovens seguidores. 'Ninguém mata ou morre por usar uma marca de roupa', explica Sérgio, morador da Favela de Parada de Lucas, dominada pelo Terceiro Comando. 'Mas sair com a roupa errada é considerado provocação, e a molecada evita.'
Seja qual for a facção, o principal código das favelas do Rio é a segurança das bocas-de-fumo. A primeira pergunta que um desconhecido ouve em algumas favelas é se quer 'pó de dez' ou 'pó de cinco' (o valor das porções de cocaína). Se recusar a oferta, ele será vigiado com cuidado por olheiros do tráfico. Se não tiver destino certo na favela, receberá sinais de que não é bem-vindo. Se tiver sido convidado por um morador, poderá subir à vontade e provavelmente vai receber ajuda de alguém ligado ao 'movimento', ou seja, ao tráfico. Mas qualquer deslize do visitante ficará na conta do morador que o convidou.
NAS FAVELAS DO TERCEIRO COMANDO
Principais: Vila do João e Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, e Parada de Lucas
Leis
Para entrar de carro em morros do Terceiro Comando, convém piscar faróis três vezes
O número 'dois' (assumido pela facção rival) é substituído por 'um mais um'
Não é recomendável o uso de roupas da cor vermelha, principal símbolo da facção rival, nem da grife Cyclone, a preferida pelo CV
Quando se entra de carro, a regra é agir como se estivesse numa blitz policial: farol baixo e luz interna acesa. Para entrar de moto, o capacete é proibido. Caminhões com carroceria fechada, ou baú, são sempre vistoriados pelos soldados do tráfico. A menos que sejam conhecidos, normalmente por suprir o comércio local. Na hora de se vestir, a regra geral é não usar casacões ou roupas embaixo das quais se podem esconder armas ou drogas com facilidade. E nunca é seguro incluir entre os pertences objetos como câmeras de vídeo ou fotográficas e gravadores. O visitante pode ser confundido com um espião - ou 'X-9' - e sofrer sérias conseqüências.