terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Complexo da Maré

O que é o
Complexo da Maré...

A Maré é o maior complexo de favelas do Rio de Janeiro e um dos espaços populares mais conhecidos do país. A fama, entretanto, é consequência dos precários indicadores sociais que caracterizam a região.

Localizada junto à Baía de Guanabara, à Av. Brasil e às principais vias de acesso à cidade, a Maré ocupa uma presença significativa no imaginário carioca.

Foi, durante muito tempo, dominada por palafitas – habitações precárias suspensas sobre a lama e a água – em visível contraste com as modernas arquiteturas do Aeroporto Internacional e da Cidade Universitária da UFRJ. Este fato contribuiu para uma visão generalizada da região como um espaço miserável, violento e sem condições dignas de vida. Na década de 80, a Maré das palafitas inspirou a música Alagados, dos Paralamas do Sucesso.

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Censo Maré

Primeira fase

O projeto "Censo Maré 2000: Quem somos nós?" teve como proposta revelar a cara, ou melhor, as cerca de 130 mil caras da Maré. Para isso foram levantadas informações precisas sobre a realidade domiciliar, econômica, cultural e educacional, não só dos moradores do bairro, mas também das instituições (públicas, privadas, de diversos portes) presentes na Maré.

A Rede Observatório disponibiliza a todos os resultados obtidos pelo Censo Maré 2000 e, a partir dessa primeira experiência na área da pesquisa, irá planejar novas estratégias de investigação sobre o bairro.

Na mesma época em que o Censo 2000 do IBGE vem revelar as contradições sociais do país na virada do milênio, o CEASM divulga os resultados de seu Censo Maré.

Iniciado em julho do ano passado, o Censo Maré foi uma iniciativa inédita, a primeira desenvolvida por uma organização não-governamental. Cerca de 100 profissionais, incluindo 40 recenseadores (a maioria da própria comunidade), realizaram um trabalho mais aprofundado do que o próprio Censo do IBGE. Além das estatísticas, o grupo reuniu dados qualitativos sobre comércio, sistemas educacional e de saúde, opções de lazer, faixa etária, religião e renda da população local, entre outros.

A realização de um censo local levado a cabo pela própria comunidade é uma experiência pioneira. Tanto que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Avançada (IPEA) – impressionado com a proposta do CEASM – se prontificou em auxiliar o Censo Maré e fazer parte da pesquisa. Como na maioria dos projetos da entidade, as atividades do Censo foram realizadas pelos próprios moradores que, antes, receberam capacitação para o trabalho.

Um outro desdobramento do Censo Maré vem sendo a organização de uma agenda de intervenção dos poderes públicos, locais e privados junto à comunidade. Trata-se da Agenda Social Maré 21. O conjunto de informações materializadas no Censo Maré – em particular o Banco de Dados – serão fornecidos à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Além disso, o Banco de Dados ficará também disponível a instituições acadêmicas e de pesquisas que demonstrem interesse no projeto.


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História da Maré

Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, a área hoje ocupada pelas comunidades da Maré era um recanto da Baía de Guanabara formado por praias, ilhas e manguezais.

As praias tinham água e areia limpas; a mata fechada permanecia intocada; os manguezais serviam como fonte de alimento para várias espécies animais; havia aves aquáticas, caranguejos e muito peixe e camarão. Até mesmo baleias nadavam tranqüilamente na Baía de Guanabara. As ilhas pareciam um paraíso tropical. Por contraste, a mesma área é hoje uma das mais poluídas da cidade.

A ação destruidora do homem começou com a extração do pau brasil que, segundo os registros mais antigos, era abundante na região. Em nome do comércio da madeira nobre, os colonizadores arrasaram as matas e provocaram a fuga das tribos indígenas locais para o interior.

Para escoar os produtos explorados e cultivados na região, foi criado – no século XVI – o Porto de Inhaúma. Ele se localizava onde hoje termina a Avenida Guilherme Maxwell, no cruzamento com a rua Praia de Inhaúma. O Porto desenvolveu importante papel econômico para o subúrbio e terminou seus dias abrigando a Colônia de Pescadores Z-6. Desapareceu nas primeiras décadas do século XX, após os sucessivos aterros na área.

Entre meados dos séculos XVII e XVIII, a região da Maré – também conhecida como "Mar de Inhaúma" – fazia parte da Freguesia rural de Inhaúma e integrava uma grande propriedade: a Fazenda do Engenho da Pedra. Sua terras abrangiam os atuais bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso e parte de Manguinhos. Hoje, onde seria a sede da fazenda restam apenas ruínas, que foram ocupadas pela Favela da Igrejinha, em Ramos.

A vinda da Família Real ao Rio de Janeiro, em 1808, trouxe facilidades para o exercício do comércio e proporcionou uma maior ocupação das áreas rurais da cidade. Mas o esmorecimento do mercado externo não tardou e, no decorrer século XIX, os proprietários buscaram novas formas de obtenção de renda.
Iniciou-se, então, um processo de arrendamento de parcelas das fazendas a pequenos agricultores.

No final daquele século, os centros dos bairros começam a surgir em torno da linha férrea e suas estações.
Em 1899, foi fundado o Instituto Soroterápico (hoje Fundação Oswaldo Cruz ), cujo trabalho de pesquisa tem reconhecidamente contribuído para o desenvolvimento científico do país.

No início do século XX, pequenos núcleos de povoamento – quase sempre formados por pescadores – já se aglutinavam em torno dos portos na região, como o Porto de Inhaúma e Maria Angu. Mas este processo acelerou-se mesmo com a reforma urbana da prefeitura de Pereira Passos – que expulsou a população mais pobre do centro da cidade, provocando a ocupação das zonas periféricas.

A partir da mesma época, a enseada de Inhaúma (que se estendia da Ponta do Caju até a Ponta do Tybau) teve sua orla de manguezais destruída pela ação de diversos aterros.

A Ponta do Thybau, por ser uma área de terra firme, foi uma das primeiras regiões a ser povoada. Era o início da Comunidade Maré – hoje, um bairro com cerca de 130.000 habitantes.

Dos primeiros habitantes à formação do bairro:

O povoamento da Maré

A história da Maré urbana começa mesmo no anos 40, com o desenvolvimento industrial do Rio de Janeiro. Nessa época, a cidade recebeu um grande fluxo de migrantes nordestinos, em busca de trabalho. O paradeiro deles foram as regiões desprezadas pela especulação imobiliária, como encostas e áreas alagadas.

Neste período, a região da Leopoldina já havia se transformado em núcleo industrial. E, como as terras boas do subúrbio tinham se tornado objeto da especulação imobiliária, restou para a camada mais pobre a ocupação das áreas alagadiças no entorno da Baía da Guanabara.

No final da década de 40, já havia palafitas - barracos de madeira sobre a lama e a água – na região. Surgem focos de povoação onde hoje se localizam as comunidades da Baixa do Sapateiro, Parque Maré e o Morro do Timbau - única naturalmente de terra firme. As palafitas se estenderam por toda a Maré e só no início dos anos 80 foram erradicadas.

A construção da Avenida Brasil - concluída em 1946 - foi determinante para a ocupação da área, que prosseguiu pela década de 50, resultando na criação de outras comunidades como Rubens Vaz e Parque União.

Nos anos 60, um novo fluxo de ocupação da Maré teve início. Durante o Governo Estadual de Carlos Lacerda (1961-1965), foram realizadas obras de modernização na Zona Sul da cidade com a consequente erradicação de favelas e remoção de sua população para regiões distantes do município.

A partir de 1960, moradores de favelas como Praia do Pinto, Morro da Formiga, Favela do Esqueleto e desabrigados das margens do rio Faria-Timbó foram transferidos para habitações "provisórias" construídas na Maré. Daí surgiu a comunidade de Nova Holanda.

Até o início dos anos 80, quando a Maré das palafitas era símbolo da miséria nacional, como retrata a música Alagados, do Paralamas do Sucesso. Mas esse período marca também a primeira grande intervenção do Governo Federal na área: O Projeto Rio, que previa o aterro das regiões alagadas e a transferência dos moradores das palafitas para construções pré-fabricadas. São hoje as comunidades da Vila do João, Vila do Pinheiro, Conjunto Pinheiro e Conjunto Esperança.
Em 1988, foi criada a 30ª Região Administrativa, abarcando a área da Maré. A primeira R.A. da cidade a se instalar numa favela marcou o reconhecimento da região como um bairro popular.

Nos anos 80 e 90, foram construídas as habitações de Nova Maré e Bento Ribeiro Dantas, para transferir moradores de áreas de risco da cidade. Já a pequena comunidade inaugurada em 2000 pela prefeitura e batizada pelos moradores de Salsa e Merengue é tida como uma extensão da Vila do Pinheiro.


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