quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Príncipe Charles, o Rei Sol

Já que sou incapaz não só de fazer uma resolução de ano novo, mas como também mantê-la com paciência, conforme a ciência britânica recomendou, e este aprazível sítio da BBC deu todos os detalhes, concentro-me nas resoluções dos outros.

Principalmente aquelas que não me envolvam. Já pensou se alguém resolver que, em 2010, vai cair de pau em cima de mim física e espiritualmente? Muito chato isso. Fica decidido que todas as resoluções de todas as pessoas em todas as partes do mundo não têm a menor possibilidade de serem mantidas. Continuará tudo na mesma lenga-lenga de sempre. E pronto. Boas entradas, feliz ano novo, que seja tudo igualzinho a 2007, 1986, 1963 e assim por diante.

Menos para o Príncipe Charles. Que 2010 lhe seja leve e ele ainda mais leve para seus futuros – quem sabe? – súditos. Não posso jurar que tenha sido resolução de ano novo, mas lá está, com algum destaque, a notícia de que o herdeiro de Dona Rainha Elizabeth prepara sua residência oficial aqui em Londres, Clarence House, para gerar sua própria eletricidade e aquecimento.

Eu disse Clarence House. House. Casa. Vamos logo esclarecer que não se trata de uma casa com dois ou três andares. House, no caso, é um belíssimo palácio, ou se optarmos por uma modéstia digna de alguém com sangue azul correndo nas veias, um palacete. “Vamos passar lá em casa, tomar uns drinques e ouvir uns disquinhos”, convidaria o mais verde dos reais, se você caísse em suas boas graças e pegasse intimidade. Se cair, se pegar, não deixe de ir. Tem coisas lindas lá.

O negócio é que o Príncipe já convocou uma equipe de peritos para descobrir a melhor maneira de instalar os painéis solares ditos voltaicos em Clarence House sem macular a paisagem local ou ferir os olhos dos circunstantes, uma vez que o – vá lá que seja – palacete está situado logo ali, perto do Mall, a apenas algumas centenas de metros do, este sim, Palácio de Buckingham, uma das muitas residências oficiais de sua mamã, a Rainha, e praticamente no centro de Londres.

Clarence House é relativamente jovem para uma cidade madura como esta, já que conta apenas 180 aninhos. A reforma ecológica sairá meio carinha para os ocupantes. Entre US$ 16 mil e US$ 20 mil para convertê-la toda para a energia solar. Muitos jornais, que amam implicar com o Príncipe, coitado, já andaram fazendo suas contas e divulgando que pode sair muito mais caro que isso. Talvez mesmo umas 10 vezes mais caro. E frisam que as despesas ficarão, como sempre, a cargo do contribuinte. No entanto, poucos se dão ao trabalho de lembrar que a conversão ecológica poderá se pagar a si mesma por volta de 2021. 11 aninhos apenas. 11 felizes aninhos novos.

Com a turma verde-garrafa garantindo que o aquecimento global marcha a galope (eles acham que é uma das bestas do apocalipse), é possível que a real residência possa estar não só produzindo sua própria eletricidade como também cedendo boa parte para a rede elétrica nacional.

Os franceses, ciosos de seu Louis, o décimo-quarto de uma série de dezesseis, cognominado o Rei Sol e detentor do título de mais longo reinado europeu (72 anos), já trincam os dentes de raiva, coisa muito comum entre os gálicos, e torcem para que dê alguma besteira na empreitada.

Não obstante, conforme se dizia, Feliz Ano Novo para todos. Se possível for.

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